Hoje você passa e não vê que amanhã vai ser você

A última vez que passei pela praça da Sé era um dia bonito, ensolarado e eu estava indo ver uma exposição na caixa cultural. Mas o que eu mais lembro desse dia foi algo inesperado que vi na praça, não algo que tenha visto na exposição.

Saí do metrô e estava achando até estranho que a praça estava menos podreira que o habitual. Tinha uns maluco lá, o de sempre, mas tava bem de boas. Mais ou menos no meio do caminho até a caixa cultural tinha uma rodinha com uns dois GCMs e uns maninho de lá. Chegando mais perto vi que eles estavam olhando pra um mano caído na praça. Um cara tinha acabado de morrer ali!

O cara era um gordinho meio inchado de pinga, mas longe do estereótipo do nóia carcomido que morre na rua. O cara tava mais pro maluco pau d’água do bairro, uma cara de «o gordinho simpático do rolê». Ele tava lá, com uma cara de que tava tirando um cochilinho gostoso, mas esse era o cochilo eterno.

Isso aconteceu não muito depois de eu ter ficado sabendo de um conhecido que morreu na frente da galeria do rock. O cara tava lá bebendo com os amigos dele de boas, sentou no banco que fizeram na frente da galeria e tava conversando com o pessoal. Do nada ele cai do banco e quando foram ver, já tinha ido.

Esse dia da praça não foi a primeira vez que vi um cara morto assim do nada, esse conhecido não foi o primeiro a morrer, amigos muito mais próximos já morreram. Mas sei lá, essa vez da praça me deixou pensativo. Acho que a meia-idade vai deixando a gente mole.

O cara tá lá de boas, fazendo o rolezinho dele e pá! Cai morto de uma hora pra outra. Em algum tempo não vai existir traço da existência da pessoa e é isso. A vida é só um sopro, hoje você tá aqui, amanhã não tá, depois de amanhã ninguém que você conheceu estará, e nem as tabuletas embaixo das portas estarão.